Primeiramente, é inegável que a pandemia da COVID-19 causou efeitos nos mais diversos âmbitos da sociedade, alguns dos quais provavelmente ainda viremos a estudar e dimensionar no futuro. Porém, algo que já vem sendo discutido há mais de um ano é o que chamamos de “Dismorfia do Zoom”. Entenda qual é o seu significado, quais são seus efeitos e origens.
De acordo com o dicionário, a palavra dismorfia significa alteração da forma, deformidade. Ao mesmo tempo, a psicologia define a dismorfia corporal como o fenômeno em que o indivíduo se incomoda profundamente com “defeitos imaginários” ou triviais de seu corpo. Dessa forma, sentindo-se constantemente insatisfeito e inseguro com a sua imagem, o que leva a problemas de autoestima.
De antemão, sabemos que tanto a dismorfia corporal quanto às questões psicológicas atreladas à pressão estética não são nenhuma novidade. Nem mesmo algo nascido no século 21.
Entretanto, profissionais como dermatologistas, cirurgiões plásticos e psicólogos identificaram um novo ponto de preocupação: o cancelamento de eventos e reuniões presenciais levou a longas horas gastas em videoconferências.
Isso é, não apenas algumas aulas ou reuniões de trabalho, mas também eventos como casamentos e amigáveis encontros de happy hour foram transmitidos por esse formato. Assim, gastamos horas de nossos dias encarando a nós mesmos na tela do celular ou computador enquanto participávamos de tais chamadas. E sim, a chance de uma pessoa nunca olhar nem mesmo de relance no seu quadradinho da tela não é muito alta.
Logo, o rosto que nos encarava de volta não era o mesmo que víamos nos espelhos, nas fotos ou até mesmo selfies. Surpreendente, tornou-se comum encarar a nossa própria aparência em posições que não estávamos acostumados.
Seja via Zoom, Teams, Hangouts, Meeting, Skype ou que for, passamos a ver nossas expressões concentrados, relaxados, focados, com testas franzidas, lábios cerrados, ou então tomando alguma bebida, mastigando um lanche, quem sabe.
Como resultado, muitas pessoas passaram a ter em sua mente novas dúvidas em relação à aparência que antes ou não existiam ou não tinham muita força. Com o passar do tempo, essas dúvidas se tornaram inseguranças. Por exemplo, meu queixo foi sempre assim? É assim que as pessoas vêem o meu nariz enquanto falo? Essa papada tá enorme mesmo ou é impressão?
Mas então, além da repetição da ação de se ver, o que mais pode ter levado a esse fenômeno? Segundo estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde, uma das possíveis respostas é a aparente credibilidade das webcams.
Afinal, em uma videoconferência, não estamos usando nenhum filtro nem nada do tipo, certo? Por isso, é possível de se concluir que a forma que nos vemos ali é como somos de verdade, e, assim todos os “defeitos” percebidos deixam de ser apenas uma pequena cisma e acabam ganhando quase que um “certificado de autenticidade”.
Dessa forma, fortalecendo a crença de que são defeitos tão grandes e reais que podem ser vistos por qualquer um que nos olhe pessoalmente da mesma maneira que vemos quando nos olhamos pela webcam.
Contudo, será que essas câmeras de computadores são assim tão infalíveis? Como não poderia deixar de ser, a resposta para essa pergunta é negativa. Não temos em nossos computadores câmeras perfeitas capazes de refletir nossa imagem sem deturpações.
Bem, como havíamos antecipado anteriormente, a dismorfia corporal não surgiu ontem. Pelo contrário, esse tema já foi e continua sendo ainda muito estudado devido ao seu efeito na população.
Por exemplo, na segunda metade da década passada, em torno de 2015, pesquisadores e profissionais da saúde identificaram a dismorfia do Snapchat. Contrariamente ao que apontamos anteriormente, essa ocorrência não era consequência de uma observação de “falhas”, mas sim da frustração após se deparar com a “perfeição”.
Em resumo, os filtros do popular aplicativo Snapchat permitiam o olhar a uma versão “aperfeiçoada” do seu rosto. Seja uma pele sem poros, olhos maiores e mais brilhantes, nariz mais delicado, lábios mais cheios, o rosto mais angular ou qualquer outra característica, o ponto é que aí nascia uma comparação.
Assim, justamente na comparação entre como você é e como você poderia ser, quando a realidade perdia aos nossos olhos, quem sofria era a autoestima. Consequentemente, diversos cirurgiões plásticos no mundo todo receberam pacientes que pediam mudanças que os deixassem mais parecidos com o seu “eu dos fitros”.
A psicóloga Ana Rubia Papi, da Terapize, nos relata alguns benefícios que a psicoterapia pode trazer no tratamento da Dismorfia do Zoom e Dismorfia Corporal em geral:
Com o acompanhamento correto de um profissional, o paciente consegue melhorar sua auto imagem e auto estima, diminuir as sensações de inferioridade e de insatisfação consigo mesmo, lidar melhor com os próprios sentimentos e até controlar melhor os níveis de ansiedade. A terapia faz toda a diferença nesses casos.”
Só nos resta apontar que a maior diferença entre os dois conceitos trazidos é que a consciência de que a imagem vista está alterada de alguma forma se perdeu. Em outras palavras, se no passado, os filtros criavam o desejo de buscar uma perfeição que se sabia ser falsa, hoje, há a busca pela correção de falhas encontradas em um reflexo que é erroneamente tratado como verdadeiro.
Além disso, se você leu até aqui e se identificou com algum desses pontos, ou então tem outras questões que lhe marcam, saiba que não há tabu algum em buscar acompanhamento profissional. Inclusive, você sabia que não é necessário um motivo específico para procurar um psicólogo? Esse profissional pode lhe ajudar até mesmo se o objetivo for apenas se conhecer melhor.
Conteúdo revisado por Ana Rubia Papi – Psicóloga e fundadora da Terapize – Terapia Online.