A escolha da profissão é uma das decisões mais significativas que um jovem enfrenta ao entrar na vida adulta. Nesse processo, os pais desempenham o papel de orientadores e apoiadores, a fim de auxiliar os filhos a abrir a mente para diversas possibilidades e, talvez, encontrar um curso universitário que corresponda não apenas às demandas do mercado e do futuro do trabalho, mas também às suas expectativas, paixões e habilidades individuais.
O que você gostaria de ter escutado naquela época, quando não sabia que caminho seguir? Cada um terá a sua resposta particular.
A Fundacred convidou Camila Capel – psicopedagoga, escritora e idealizadora da metodologia Parentalidade Essencial – para explicar a sua visão sobre os desafios que os pais enfrentam nessa fase da vida do jovem.
A profissão determina o tipo de trabalho que aquela pessoa está destinada a realizar, o ambiente em que irá atuar, o nível de satisfação e realização pessoal, além do impacto na remuneração e na qualidade de vida.
E, além disso, essa decisão também pode influenciar na trajetória da carreira, as oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional, a possibilidade de conciliar trabalho e vida pessoal, entre outros aspectos – experiências essas que muitos pais já tiveram e, às vezes, anseiam por ajudar filhos a tomar a melhor decisão possível.
No entanto, até que ponto devem interferir nessas escolhas? De um lado, os pais têm uma importante função de orientação e apoio. Eles podem compartilhar suas experiências, fornecer informações sobre as diferentes profissões e ajudar os filhos a refletir sobre suas próprias aptidões e interesses. Por outro lado, é importante respeitar suas autonomias. Afinal, é uma decisão pessoal e os pais não devem impor seus próprios sonhos ou expectativas nos filhos.
Assim, a interferência na escolha de curso da faculdade dos filhos deve ser orientadora e informativa, mas não autoritária. Os pais devem ouvir os filhos, entender suas motivações e ajudá-los a explorar as diferentes opções disponíveis. “Não precisamos ser responsáveis por estas escolhas. Isso inclui tomar cuidado com falas permeadas de críticas, pré-conceitos sobre determinadas profissões ou falas que destroem autoestima e confiança do jovem”, especifica Camila.
Como explica Camila, "educar um ser também é um processo onde estamos nos autoeducando para nos tornarmos melhores educadores”, então, o único caminho para uma decisão saudável é por meio da comunicação aberta entre ambos. “É essencial que os pais respeitem a autonomia dos filhos. Eles devem estar abertos a ouvir suas opiniões e a respeitar suas decisões. Mesmo que não concordem, os pais devem apoiar sua decisão. Este apoio e compreensão por parte dos pais é fundamental para que os filhos se sintam seguros e confiantes em suas escolhas profissionais”, finaliza a profissional.
Uma das principais causas de “desordem” entre pais e filhos estão relacionadas aos conflitos geracionais. Jovens de hoje pertencem à Geração Z e possuem perspectivas e valores distintos às gerações anteriores. “Essa geração prioriza qualidade mais do que quantidade, preza pela liberdade e flexibilidade para desfrutar plenamente da vida”, diz Camila, que afirma ainda que os jovens buscam significado e propósito em suas carreiras, até porque têm uma consciência mais aguçada em relação às questões ambientais e sociais.
A participação da Geração Z no mundo, e, principalmente, no mercado de trabalho, é completamente alheia a tudo já vivenciado até então. Tanto é que empresas estão modificando suas culturas e formas de trabalhar para reter talentos. Dinâmicos, não se prendem a planos de carreira rígidos e benefícios básicos – estão sempre à procura de desafios, inovação, experiências.
Camila explica que eles têm consciência mais aberta a questões ambientais, ao impacto individual de consumo no planeta; e pensam em gerar impacto social e melhorar o mundo. “O sucesso para eles pode ser bastante diferente do que o que esta palavra representou para nós”, justifica Capel.
Os jovens de hoje não são os jovens das gerações anteriores e entender os conceitos geracionais segundo a sociologia pode dar uma dimensão do quanto as mentes desses jovens estão em mudança. “Acredito que não há uma receita mágica para solucionar os dilemas comuns dessa fase, dentre eles, o da escolha de carreira, tema comum quando convivemos com jovens que estão no fim do ensino médio ou mesmo antes, por volta dos 15 anos, quando este já passa a ser um tema dentro da escola e, consequentemente, no lar”, pontua.
No mundo contemporâneo, a escolha da carreira pelos jovens é uma decisão crucial e muitas vezes desafiadora. Por meio de uma comunicação aberta, e de encorajamento ao desenvolvimento autônomo dos filhos, a abordagem da Parentalidade Essencial explica como os pais podem abordar o tema, como conselheiros, fornecendo informações e incentivadores.
Já sabemos que o papel dos pais na escolha do curso universitário é complexo e multifacetado. Mas existem maneiras efetivas de contribuir na decisão dos filhos, de forma saudável e orientadora. “Uma dica importante que dou aos pais que ficam impacientes nesta fase, é que a melhor forma de educar é o bom humor; e que bom humor, nesta fase, é apenas saber não se irritar. Portanto, tenha paciência com o momento em que eles vivem, pense que eles ainda, de fato, não estão prontos, inclusive cognitivamente”, sugere Camila.
Segundo a psicopedagoga, a organização mental exige alto nível de controle cognitivo e a maneira como o cérebro adolescente está integrado, com acesso limitado aos lobos frontais, dificulta o processo de planejamento. Ou seja, as perspectivas sobre o futuro de suas próprias vidas são diferentes, o que pode gerar a falsa ideia de que eles são propositalmente irresponsáveis ou preguiçosos. Mas esta não é a verdade: “tente pensar que nossa visão adulta, capaz de organizar e planejar o futuro, é privilegiada em relação à deles” expressa Camila, “neste ponto, podemos cair em um grande erro, o de achar que, portanto, seria mais fácil se escolhêssemos por eles, já que eles ainda não estão "prontos’”.
De acordo com a autora, o grande problema disso é que não será você a lidar com o bônus e, principalmente, com o ônus desta grande escolha; que, inclusive, pode dar muito certo, ou não.
Segundo Camila, existem três etapas da análise de pensamento, para que os jovens sejam capazes de elaborar suas próprias conclusões. Confira:
1. Elaboração Mental
Permita que ele colha dados, não apenas de você, mas por meio de leituras, pesquisas, colegas e outras fontes. Se tiver abertura, busque diálogos onde possa fazer perguntas que explorem quais coisas ele sente prazerem fazer ou coisas nas quais ele enxerga sentido quando executa. Ajude-o a sairda “caixinha” chamada profissão e tente fazê-lo perceber suas habilidades e vocação;
2. Julgamento
Dê tempo para que ele, agora, possa fazer sua avaliação sem interferência da sua opinião;
3. Conclusão
Quando damos tempo para cada etapa, devemos confiar na capacidade do jovem de decidir e apoiá-lo em sua decisão, ainda que ela seja diferente do que faríamos. Isso envolve apoiar escolhas que nossa mente adulta,limitada, não é capaz de compreender mais, mas que no jovem isso ainda estálivre. Aqui está o grande segredo!
Além disso, a flexibilidade e paciência são fundamentais durante essa fase, já que são momentos confusos e de insegurança. Não esqueça de observar as aptidões e habilidades dos jovens: uma das discussões mais comuns na época da escola é entender em que área de conhecimento eles preferem: Humanas, Exatas, Biológicas… identificar uma dessas categorias já limita o espectro de cursos superiores disponíveis em uma faculdade. Como diz Camila, “o medo do sofrimento do outro move muitos atos de amor. Mas lembre-se, nossos filhos são seres únicos, com biografias diferentes das nossas. Por outro lado, eles têm a nós para apoiá-los e ajudá-los a viver seus próprios desafios”.
Seja um guia, um apoiador e um confidente. A Fundacred pode ser uma aliada nesse processo, contribuindo para a formação do seu filho. Parcele as mensalidades do curso sem juros remuneratórios. Saiba como no Portal da Fundacred!
Pais devem ajudar os filhos a construir pensamento crítico e fazê-los refletir sobre as seguintes perguntas: o que é verdade para mim? Como construo minhas verdades?
Ao respeitar a autonomia e individualidade de seus filhos, e deixá-los se questionar e responder, os pais podem ajudá-los a tomar decisões conscientes e responsáveis que os conduzam a uma carreira satisfatória e significativa. Portanto, ao invés de impor suas próprias expectativas e desejos, se comprometa a guiar a jornada de descoberta e autodescoberta. “Podemos fazer diferente e liberar nossos filhos para irem de encontro aos seus próprios desejos...", diz Camila.
Camila conta que, quando pais se reconectam as suas verdades da juventude, libertam os filhos para seguirem os próprios caminhos com autonomia e confiança. E, afinal, não seria este o genuíno desejo por trás de toda educação?
Camila Capel é psicopedagoga e facilitadora de processos de desenvolvimento humano. É autora dos livros “Vamos Falar sobre a Vida?” e “A Mala do Opa”.
É idealizadora da Parentalidade Essencial – modelo de educação parental que abrange a relações entre pais e filhos, ou entre filhos e seus próprios pais por meio do ponto de vista físico, emocional e espiritual.